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domingo, 9 de outubro de 2011

Capitalismo e suas mazelas


Por Joaquim Maia Neto
Praticamente todas as mazelas vividas pela sociedade moderna têm como causa o sistema capitalista. Aqueles que afirmam isso e lutam contra o sistema costumam ser considerados pessoas utópicas, distantes da realidade.
A hegemonia do pensamento capitalista, que começa a ruir com as frequentes crises que estão abalando o mundo desde a quebra de Wall Street em 2008, deve-se em parte a inexistência de uma experiência socialista que se preocupasse com o bem estar das pessoas e do planeta. Todos os regimes socialistas experimentados no mundo se utilizaram de repressão à sociedade e impuseram às pessoas diversos tipos de sofrimento. Além disso, à semelhança do capitalismo, buscaram o crescimento econômico linear.
Apesar de equivocados e danosos, os regimes socialistas autoritários não são piores do que o capitalismo em termos de imputação de sofrimento e criação de problemas econômicos, sociais e ambientais de difícil solução. Aliás, os problemas que o capitalismo causa têm solução impossível na hipótese de manutenção do regime.
A condição básica para o “êxito” do capitalismo é o crescimento econômico constante. Para isso, as pessoas têm que consumir cada vez mais. Se isso não for possível, deve-se garantir o crescimento com um número crescente de pessoas sendo inseridas no mercado. Esse objetivo tem sido alcançado com o crescimento demográfico mundial e com a publicidade violenta sobre grupos que tem potencial de se tornarem consumidores, como as crianças, por exemplo. Um sistema assim não é de modo algum compatível com as limitações naturais existentes no planeta e, portanto, não existe sustentabilidade ambiental dentro do sistema capitalista.
A questão ambiental é apenas uma das fontes de problemas causados pelo capitalismo, que em sua versão moderna, se utiliza de uma eficiente ferramenta de perpetuação que potencializa as enfermidades do sistema: a corporação. Em 2003 foi lançado “The Corporation”, um excelente documentário dos canadenses Mark Achbar e Jennifer Abbott, inspirado em um best-seller de Joel Bakan. O filme explica com riqueza ímpar a ascensão das grandes corporações mundiais e os problemas sociais, ambientais, econômicos e políticos causados por elas, além de dissecar a máquina de manipulação mercadológica que as constitui. Em uma bela analogia muito bem trabalhada no documentário, procura-se identificar o perfil psíquico da corporação, e conclui-se que, se fosse uma pessoa natural, a corporação seria um psicopata, dada a capacidade de prejudicar deliberadamente as pessoas, sem nenhum remorso ou arrependimento.
Sempre atrelada ao poder, a corporação tornou-se a instituição mais poderosa no mundo atual, submetendo até mesmo o poder político aos seus interesses. Passando por situações de cooperação com regimes totalitários, como o apoio da estadunidense IBM ao governo de Hitler na Alemanha nazista, até a completa submissão de governos aos seus interesses, como no caso da privatização da água boliviana à francesa Suez, em 1997, por imposição do FMI, as corporações são o braço operacional do capitalismo, concentrando renda nas mãos de poucos às custas de prejuízos a muitos. Trabalho escravo, poluição, golpes de estado, genocídio, fome, guerras, entre outras chagas repudiadas publicamente por qualquer executivo de uma grande transnacional, estão entre as ações e consequências das atividades de quase todas as grandes corporações mundiais.
Muito se tem falado da nova doutrinação imposta pelo sistema capitalista para se eximir de sua responsabilidade sobre o colapso ambiental iminente, impedindo com isso uma reação social contra o sistema. A estratégia é iludir o consumidor de que suas escolhas pessoais e ações individuais são suficientes para reverter o quadro de esgotamento dos recursos naturais, desequilíbrio ecológico e mudanças climáticas. Não sou do grupo dos que desprezam as ações individuais. Ao contrário, acho que elas são importantíssimas para reduzirmos nosso impacto no planeta e ganharmos tempo. Tempo para quê? Tempo para lutar contra um sistema que nos faz comprar cada vez mais coisas que não precisamos e que nos valoriza de acordo com nossa capacidade de consumir recursos naturais, descartar lixo em quantidades crescentes e poluir cada vez mais. Só faz sentido evitar a compra de alimentos com componentes transgênicos, optar por alimentos orgânicos ou ir ao trabalho de bicicleta, se houver a compreensão de que não se deve abdicar de desmontar as estruturas que estão destruindo o planeta, gerando violência devido à segregação social e excluindo milhões de seres humanos do acesso ao mínimo necessário para uma vida digna. 
Ainda estamos muito distantes de um mundo onde a solidariedade, a justiça, os valores morais, a ética e o respeito à natureza, predominarão. Mas esse mundo tem que estar em nossas mentes como uma utopia a ser construída diariamente. Sobrevivemos nessa sociedade doente, ora enfrentando o regime, com maior ou menor empenho e resistência, ora aceitando suas imposições para continuar vivendo. São inevitáveis algumas contradições individuais, que serão superadas na medida em que o enfrentamento do problema ganhar um caráter coletivo.
 
Mindmap of The Corporation - Fonte: Galeria de Austin Kleon - http://www.flickr.com/

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