Por Joaquim Maia Neto
Praticamente todas as mazelas vividas pela sociedade moderna têm como causa o sistema capitalista. Aqueles que afirmam isso e lutam contra o sistema costumam ser considerados pessoas utópicas, distantes da realidade.
A hegemonia do pensamento capitalista, que começa a ruir com as frequentes crises que estão abalando o mundo desde a quebra de Wall Street em 2008, deve-se em parte a inexistência de uma experiência socialista que se preocupasse com o bem estar das pessoas e do planeta. Todos os regimes socialistas experimentados no mundo se utilizaram de repressão à sociedade e impuseram às pessoas diversos tipos de sofrimento. Além disso, à semelhança do capitalismo, buscaram o crescimento econômico linear.
Apesar de equivocados e danosos, os regimes socialistas autoritários não são piores do que o capitalismo em termos de imputação de sofrimento e criação de problemas econômicos, sociais e ambientais de difícil solução. Aliás, os problemas que o capitalismo causa têm solução impossível na hipótese de manutenção do regime.A condição básica para o “êxito” do capitalismo é o crescimento econômico constante. Para isso, as pessoas têm que consumir cada vez mais. Se isso não for possível, deve-se garantir o crescimento com um número crescente de pessoas sendo inseridas no mercado. Esse objetivo tem sido alcançado com o crescimento demográfico mundial e com a publicidade violenta sobre grupos que tem potencial de se tornarem consumidores, como as crianças, por exemplo. Um sistema assim não é de modo algum compatível com as limitações naturais existentes no planeta e, portanto, não existe sustentabilidade ambiental dentro do sistema capitalista.
A questão ambiental é apenas uma das fontes de problemas causados pelo capita
lismo, que em sua versão moderna, se utiliza de uma eficiente ferramenta de perpetuação que potencializa as enfermidades do sistema: a corporação. Em 2003 foi lançado “The Corporation”, um excelente documentário dos canadenses Mark Achbar e Jennifer Abbott, inspirado em um best-seller de Joel Bakan. O filme explica com riqueza ímpar a ascensão das grandes corporações mundiais e os problemas sociais, ambientais, econômicos e políticos causados por elas, além de dissecar a máquina de manipulação mercadológica que as constitui. Em uma bela analogia muito bem trabalhada no documentário, procura-se identificar o perfil psíquico da corporação, e conclui-se que, se fosse uma pessoa natural, a corporação seria um psicopata, dada a capacidade de prejudicar deliberadamente as pessoas, sem nenhum remorso ou arrependimento.
lismo, que em sua versão moderna, se utiliza de uma eficiente ferramenta de perpetuação que potencializa as enfermidades do sistema: a corporação. Em 2003 foi lançado “The Corporation”, um excelente documentário dos canadenses Mark Achbar e Jennifer Abbott, inspirado em um best-seller de Joel Bakan. O filme explica com riqueza ímpar a ascensão das grandes corporações mundiais e os problemas sociais, ambientais, econômicos e políticos causados por elas, além de dissecar a máquina de manipulação mercadológica que as constitui. Em uma bela analogia muito bem trabalhada no documentário, procura-se identificar o perfil psíquico da corporação, e conclui-se que, se fosse uma pessoa natural, a corporação seria um psicopata, dada a capacidade de prejudicar deliberadamente as pessoas, sem nenhum remorso ou arrependimento.Sempre atrelada ao poder, a corporação tornou-se a instituição mais poderosa no mundo atual, submetendo até mesmo o poder político aos seus interesses. Passando por situações de cooperação com regimes totalitários, como o apoio da estadunidense IBM ao governo de Hitler na Alemanha nazista, até a completa submissão de governos aos seus interesses, como no caso da privatização da água boliviana à francesa Suez, em 1997, por imposição do FMI, as corporações são o braço operacional do capitalismo, concentrando renda nas mãos de poucos às custas de prejuízos a muitos. Trabalho escravo, poluição, golpes de estado, genocídio, fome, guerras, entre outras chagas repudiadas publicamente por qualquer executivo de uma grande transnacional, estão entre as ações e consequências das atividades de quase todas as grandes corporações mundiais.
Muito se tem falado da nova doutrinação imposta pelo sistema capitalista para se eximir de sua responsabilidade sobre o colapso ambiental iminente, impedindo com isso uma reação social contra o sistema. A estratégia é iludir o consumidor de que suas escolhas pessoais e ações individuais são suficientes para reverter o quadro de esgotamento dos recursos naturais, desequilíbrio ecológico e mudanças climáticas. Não sou do grupo dos que desprezam as ações individuais. Ao contrário, acho que elas são importantíssimas para reduzirmos nosso impacto no planeta e ganharmos tempo. Tempo para quê? Tempo para lutar contra um sistema que nos faz comprar cada vez mais coisas que não precisamos e que nos valoriza de acordo com nossa capacidade de consumir recursos naturais, descartar lixo em quantidades crescentes e poluir cada vez mais. Só faz sentido evitar a compra de alimentos com componentes transgênicos, optar por alimentos orgânicos ou ir ao trabalho de bicicleta, se houver a compreensão de que não se deve abdicar de desmontar as estruturas que estão destruindo o planeta, gerando violência devido à segregação social e excluindo milhões de seres humanos do acesso ao mínimo necessário para uma vida digna.
Ainda estamos muito distantes de um mundo onde a solidariedade, a justiça, os valores morais, a ética e o respeito à natureza, predominarão. Mas esse mundo tem que estar em nossas mentes como uma utopia a ser construída diariamente. Sobrevivemos nessa sociedade doente, ora enfrentando o regime, com maior ou menor empenho e resistência, ora aceitando suas imposições para continuar vivendo. São inevitáveis algumas contradições individuais, que serão superadas na medida em que o enfrentamento do problema ganhar um caráter coletivo.
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| Mindmap of The Corporation - Fonte: Galeria de Austin Kleon - http://www.flickr.com/ |

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