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domingo, 19 de agosto de 2012

Cadê a logística reversa das lâmpadas?

Por Joaquim Maia Neto

Passados dois anos da publicação da Lei 12305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, duas pendências incomodam bastante. A primeira delas refere-se ao prazo para a elaboração dos planos estaduais de resíduos sólidos e dos planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos, vencido no último dia 2 de agosto. Há indícios de que a grande maioria dos estados e municípios não cumpriu com essa obrigação legal, o que pode comprometer seriamente a implementação da política. A segunda grande pendência é relativa à logística reversa de lâmpadas.

A Lei estabeleceu a obrigação de se estruturar sistemas de retorno de alguns produtos, após o uso pelo consumidor, aos comerciantes, distribuidores, importadores e fabricantes, para que seja dada a destinação adequada a fim de se mitigar os danos causados ao meio ambiente. As categorias de produtos abrangidos pela obrigatoriedade de implementação do sistema de logística reversa são: agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, e; produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

Quase todas as categorias de produtos abrangidas pela Lei já dispõem de sistemas mais ou menos implementados de logística reversa. Hoje em dia o consumidor consegue com certa facilidade devolver os produtos ao revendedor, de forma que eles retornem ao fabricante para o reaproveitamento dos materiais ou a disposição correta. A exceção são as lâmpadas.

É assustador constatar que a imensa maioria das lâmpadas fluorescentes descartadas no Brasil tem destino inadequado. Esse tipo de produto pode ser considerado como um resíduo perigoso, devido à presença de substâncias tóxicas em seu interior, como o mercúrio. São comercializadas por ano no país cerca de 250 milhões de lâmpadas fluorescentes, mas apenas 14 milhões de unidades são recebidas para um descarte adequado, que envolve a descontaminação e o reaproveitamento das substâncias perigosas. Em geral as lâmpadas queimadas são jogadas no lixo comum e acabam contaminando o meio ambiente e colocando em risco a saúde das pessoas.

Existem empresas especializadas na descontaminação, reciclagem e reaproveitamento de materiais das lâmpadas fluorescentes, mas normalmente apenas grandes empresas, que consomem muitas lâmpadas, pagam por estes serviços. O consumidor, mesmo quando consciente, tem grandes dificuldades em dar destino às lâmpadas que descarta ao final da vida útil do produto. Os elos da cadeia produtiva que lucram com a fabricação e venda de lâmpadas fluorescentes continuam se omitindo acerca da responsabilidade de recolher o produto após o seu ciclo de vida.

No mês passado o governo lançou, tardiamente, um edital convocatório para que a cadeia produtiva das lâmpadas promova um acordo setorial com a finalidade de viabilizar a implantação da logística reversa. As empresas têm 120 dias, contados da publicação do edital, para apresentar as propostas que serão analisadas pelo governo. A letargia do setor não se justifica, a não ser pelo fato de que os empresários reproduzem a lógica de obter o máximo lucro com o mínimo investimento ambiental, transferindo o custo das externalidades negativas de sua atividade para toda a sociedade. O setor de eletroeletrônicos, também não firmou acordo setorial, mas tem recebido dos consumidores os produtos usados para destinação correta, agindo assim de maneira mais responsável do que os fabricantes de lâmpadas.

Enquanto o acordo setorial não sai, assistimos ao absurdo de encontrar lâmpadas extremamente perigosas jogadas no lixo comum. O próprio poder público, em especial a União, que é grande consumidor de lâmpadas, não dá um bom exemplo. Geralmente as entidades públicas não pagam pelos serviços de destinação adequada de lâmpadas queimadas e as descartam irresponsavelmente.

Além de pressionar governo e empresas para resolverem o problema, devemos procurar ter atitudes responsáveis com os nossos resíduos. O jeito é armazenar as lâmpadas até que o sistema de logística reversa seja implementado. Há empresas que, mesmo sem ter a obrigação, prestam relevantes serviços, como política de responsabilidade socioambiental. O Shopping Center Pátio Brasil, de Brasília, dispõe de um ecoponto que recebe no último final de semana de cada mês, gratuitamente, lâmpadas queimadas de toda a população para destinação correta, arcando com os custos desse procedimento. É uma bela iniciativa que hoje se constitui na única opção responsável que os consumidores de lâmpadas de Brasília têm para efetuar o descarte correto.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Coisas que me chateiam

Por Joaquim Maia Neto
Há alguns acontecimentos do cotidiano que são relativamente comuns, mas que me chateiam bastante. Uns chegam a me deixar irritado e outros me fazem refletir sobre a dificuldade que as pessoas têm em conviver umas com as outras, em respeitar o direito alheio, em se colocar no lugar do outro, em conservar a natureza.
É chato falar de coisas chatas, porém mais chato ainda é passar por elas sem dizer nada. A tolerância é uma virtude que precisa ser cultivada por todos nós, mas isso não significa que tenhamos que nos omitir diante da falta de respeito. Refiro-me não apenas ao respeito às pessoas, mas também ao respeito aos demais seres vivos e ao planeta.
A lista de chateações é extensa e por isso irei poupar os leitores de boa parte delas, pelo menos neste artigo. Talvez, numa próxima oportunidade, apresentarei outros exemplos.
Fico muito satisfeito em poder ir ao trabalho todos os dias de ônibus. Considero um grande privilégio poder deslocar-me pela cidade utilizando transporte coletivo com rapidez e razoável conforto. Sei que essa não é a realidade da maioria dos brasileiros. Conforta-me saber que posso servir de exemplo para que outras pessoas percebam como não é difícil mudar seus hábitos para torná-los menos impactantes ao meio ambiente. Recebo como bônus o benefício de não ter a preocupação de procurar lugar para estacionar o carro, o que é uma grande vantagem na atual conjuntura de disputa ferrenha por uma vaga. Mas como nada é perfeito, sou obrigado a observar atitudes egoístas no coletivo. 
Fonte: http://www.zonadamatamg.com.br/
Não consigo perder o hábito de observar o comportamento das pessoas na cena urbana. Costumo divertir-me com isso, vendo a diversidade cultural representada nas ruas da cidade. Mas também vejo muita falta de educação. E aí vai a primeira das chateações: não há nada mais sacana do que o sujeito, no ônibus urbano, se acomodar no assento do corredor, deixando vago o da janela. Apesar de arranjarem dezenas de justificativas para esse comportamento, os que o praticam o fazem por um único motivo, que é não querer compartilhar o espaço com algum desconhecido. Ninguém tem coragem de negar a passagem a alguém que peça licença para sentar na janela, mas o constrangimento causado não só é evidente, como é o objetivo de quem causa a obstrução. Tem gente que chega ao cúmulo de fingir estar dormindo ou de simular extrema concentração na leitura de um livro para ter êxito no seu egoísmo. Essa prática também é utilizada para não ceder o espaço a gestantes, idosos e outras pessoas que têm preferência na acomodação. Percebe-se que o indivíduo utiliza-se do transporte coletivo a contragosto. Prefere não estar ali, dividindo o espaço com pessoas diferentes. Há os que preferem viajar em pé a ter que solicitar passagem para sentar ao lado de quem opta pela atitude segregadora, o que acaba atendendo à expectativa dos mal-educados.
Existem chateações que são difíceis de explicar a quem as causa. Você já deve ter ouvido falar de uma marca de cafeteira chamada “Dolce Gusto”. A marca é associada à famosa grife de café “Nescafé”, da companhia suíça Nestlé, que recentemente esteve envolvida em escândalos relacionados à promoção de desmatamento em áreas sensíveis na Indonésia e ao descumprimento da legislação de proteção ao consumidor no Brasil. A tal cafeteira, com a qual tenho que me deparar todos os dias no trabalho, funciona com cápsulas plásticas cujo conteúdo é suficiente para o preparo de um único cafezinho. Cada vez que alguém resolve tomar um café, uma cápsula vira lixo. E o pior é que é inviável reciclar essas cápsulas. A máquina faz um micro furo em um selo metálico que veda a cápsula e o pó de café usado permanece contido na embalagem após o preparo da bebida. A logística para retirar o selo e o pó da embalagem torna o processo de reciclagem extremamente oneroso, ao ponto de inviabilizá-lo. Você acha que quem toma o café se preocupa em retirar o selo e lavar a embalagem? Isso “dá trabalho”! Falar sobre o assunto rende apelido de xiita. Já virei motivo de piada por causa disso. Não consigo desassociar o comportamento dos consumidores do “Dolce Gusto” daquele dos fumantes que jogam as bitucas acesas no chão. Ter que apagá-las e jogá-las no lixo é demais! 

CLIQUE NA FIGURA PARA VER EM TAMANHO MAIOR
Printscreen da página de perguntas frequentes do SAC da Nestlé. Arte de http://www.aventurasgastronomicas.com.br/
Permitam-me apenas mais uma. Essa me irrita profundamente. As chamadas “podas radicais” nas árvores, que apesar do nome não são feitas nas raízes, são o cúmulo da insensatez. Executadas com a complacência dos administradores das urbes, quando não realizadas a mando dos próprios, constituem uma verdadeira mutilação dos seres que prestam relevantes serviços ambientais, como a mitigação do barulho, o sequestro de carbono, o conforto térmico, o embelezamento da paisagem urbana, entre tantos outros. A retirada total da copa, além de deixar a árvore  com aspecto sofrido, impede por longo tempo que a mesma desempenhe a grande maioria de suas funções ecológicas e torna-a suscetível a diversas infecções causadoras de doenças. É comum, após várias podas desse tipo, cortar a árvore sob o argumento de que está condenada. Só não se diz que o que a condenou foi o tratamento cruel ao qual a planta foi submetida. A motivação para a mutilação arbórea é torpe: exposição de fachadas, folhas que “sujam” o chão e entopem calhas, placas publicitárias que precisam ser vistas para a promoção do consumo, ou qualquer outra firula que a ignorância humana possa fomentar. Associo a imagem a um ser triste, de braços estendidos aos céus clamando por um pouco de iluminação às mentes inebriadas que condenam o futuro para fruir as efemeridades da sociedade de consumo.
Fonte:
 http://www.revolucoes-por-minuto.blogspot.com/

Por enquanto fico apenas nestas para não irritá-lo ainda mais, caro leitor. Escrever sobre o que me chateia é terapia para cultivar a tolerância positiva e aplacar a irritação alimentada a cada passeio crítico pela cidade.

domingo, 23 de outubro de 2011

Lixo hospitalar, tamanho do Estado e colonialismo disfarçado

Por Joaquim Maia Neto

Fonte: http://www.ecobatata.blogspot.com/

Há cerca de dez dias foram descobertas no Porto de Suape, em Ipojuca, Pernambuco, 46 toneladas de lixo hospitalar importado dos Estados Unidos. O carregamento, encontrado em dois contêineres, foi importado como “tecido de algodão com defeito” e continha lençóis manchados de sangue, seringas, luvas cirúrgicas, máscaras, entre outros produtos com  potencial de contaminação biológica. O destino da carga seria o pólo têxtil de Santa Cruz do Capibaribe, no interior do estado. Outros 14 contêineres importados pela mesma empresa estão a caminho do Brasil.
O triste episódio vai muito além das óbvias implicações negativas de natureza ambiental e de saúde pública. Não é um fato isolado. Em 2009, cerca de 1200 toneladas de resíduos tóxicos provenientes do Reino Unido chegaram aos portos de Santos e do Rio Grande. As apreensões de 2009 e as atuais provavelmente são apenas a ponta de um sombrio iceberg cuja parte imersa é todo o lixo que não foi detectado nas fiscalizações e que escapou aos limites dos portos, contaminando nosso país com os rejeitos do hemisfério norte. Apenas uma pequena amostra dos contêineres é vistoriada para confirmar se o conteúdo corresponde ao declarado na documentação.
O risco ao qual estão submetidos nosso meio ambiente e a saúde da população, decorrente da vulnerabilidade brasileira a essas atitudes irresponsáveis de empresários estadunidenses e britânicos, e talvez de outros países, das quais participam brasileiros desprovidos de senso ético e de patriotismo, exige uma profunda reflexão acerca do problema.
Lençóis contaminados com sangue
encontrados no Porto de Suape.
 Foto: Divulgação ANVISA

O Estado é absolutamente necessário para que o povo seja protegido e tenha seus direitos fundamentais assegurados. Apenas a condição natural do ser humano não é suficiente para o atendimento das necessidades geradas pelo convívio em sociedade, como demonstra Rousseau no “Contrato Social”. É por isso que as pessoas abrem mão de liberdade irrestrita, se sujeitam a limitações abstratas e, sobretudo, empregam parte de sua produção e força de trabalho na manutenção do aparato estatal que lhes garantirá as condições mínimas para que vivam em segurança. Na hipótese de um Estado fraco, predominam as condições impostas por grupos mais fortes, em consonância com seus interesses e em detrimento do bem comum.
Os grupos que têm interesse no enfraquecimento do Estado são representados principalmente pelas corporações, que no atual cenário de economia globalizada há muito superaram os poderes estatais. Representantes desses interesses estão pulverizados no tecido social e suas ações ecoam nos parlamentos, tribunais, empresas, terceiro setor, imprensa, entre outros. Propugnam o afastamento do Estado em relação ao mercado e discursam com veemência contra qualquer tentativa de fortalecimento da máquina pública. Divulgam um falso consenso sobre a necessidade de enxugamento constante das entidades e órgãos públicos e criticam freneticamente qualquer contratação ou aumento de vencimentos de servidores públicos, mas fingem-se de mortos quanto às contratações de grandes obras, socorros financeiros e subsídios governamentais que beneficiam bancos, empreiteiras e o agronegócio. Criticam a carga tributária brasileira, mas jamais se insurgem contra a injustiça do nosso sistema tributário não progressivo que incide mais intensamente sobre os que ganham menos. Querem redução linear de impostos para manter um sistema concentrador que os beneficia.
O resultado da influência que o falso consenso liberal exerce sobre a política é a falta de proteção da sociedade contra a voracidade do capital e do colonialismo disfarçado. O episódio do lixo hospitalar é apenas uma face do problema. Não temos fiscais em número suficiente e as apreensões, ao contrário de terem nos protegido, apenas nos alertam sobre o quanto já fomos prejudicados. Para que o Estado cumpra seu papel ele deve ser mais eficiente e eficaz, e ainda precisamos avançar muito nesse aspecto. Mas isso não é possível com instituições públicas mal aparelhadas e com servidores mal remunerados. A regra de mercado acaba sendo aplicada na disputa por bons profissionais e os setores estatais que remuneram mal perdem seus melhores quadros. As corporações bem sucedidas pagam bem aos seus executivos e os governos imperialistas exportadores de lixo fazem o mesmo aos seus burocratas. Por que querem impor ao Brasil, com a ajuda dos capitalistas nacionais, a desprofissionalização das carreiras públicas? Gana e Somália são hoje os maiores receptores de resíduos tóxicos, de informática, industriais e até nucleares, provenientes de nações economicamente mais desenvolvidas, exatamente por que não dispõem de aparatos estatais fortes e estruturados.
O Brasil só não sucumbiu à crise mundial de 2008 porque possui um sistema relativamente bom de regulação financeira, mas não podemos dizer o mesmo sobre outros setores do governo, em especial no que diz respeito à regulação ambiental e sanitária. As instituições públicas que lidam com a área carecem de melhor estruturação.
Fonte: http://www.paduacampos.com.br/

Saber que recebemos resíduos de outros países é uma afronta para nossa nação. As exportações ilegais desse material são feitas para que as empresas se livrem das grandes exigências impostas nos países de origem. A saída que encontram é mandar a imundície para os locais do mundo que elas consideram como seu quintal. Supõem que os habitantes daqui  valham menos e sejam inferiores aos norte-americanos e europeus. Na ponta do lápis, percebem que sai mais barato vender o lixo para os “subdesenvolvidos” do que tratá-lo adequadamente. Alguns brasileiros se aproveitam e ganham dinheiro submetendo o país a tamanha humilhação. Até quando aceitaremos isso? É preciso que o Itamaraty haja com determinação e não aceite que o Brasil seja transformado em lixeira. Já temos sujeira suficiente por aqui.

domingo, 28 de agosto de 2011

Limpa Brasil

Por Joaquim Maia Neto
Ontem foi comemorado o “Dia da Limpeza Urbana”. Acredito que pouca gente sabe que esse dia existe. Muitas pessoas devem achar que é mais um dia inventado por algum político que, ao invés de apresentar proposituras para melhorar a vida da população, fica inventando datas comemorativas. Em todos os dias deveríamos ter a preocupação com a limpeza urbana, mas uma data no calendário ajuda a refletir sobre o assunto, que não é banal, ao contrário, deveria ser tratado como prioridade.
Dados da ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais - mostram que a quantidade de resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil em 2010 foi 6,8% superior à de 2009. O aumento foi seis vezes maior que o crescimento populacional registrado no mesmo período, o que significa que a produção de resíduos de cada brasileiro está aumentando muito. Em 2010 cada morador do país produziu sozinho, em média, 378 Kg de lixo, mais de cinco vezes o peso de uma pessoa de 70 Kg! A quantidade de resíduos sólidos urbanos com disposição inadequada, ou seja, destinados a lixões ou aterros controlados (não adequados) passou de 21,7 milhões de toneladas em 2009 para 23 milhões de toneladas em 2010. 
A região campeã em má gestão de resíduos é a centro-oeste, com 71% de disposição inadequada, seguida do Nordeste, com 66%, Norte (65%), Sul (30,3%) e Sudeste (28,3%). Esta última região é a que mais produz resíduos sólidos urbanos, sendo os estados de São Paulo e Rio de Janeiro os maiores produtores de lixo, com 55 mil e 20 mil toneladas diárias, respectivamente.
Entende-se por disposição adequada de resíduos sólidos, o cenário no qual o lixo é depositado em aterros sanitários adequados, que possuem impermeabilização que impede a contaminação do lençol freático e do solo adjacente e que estão licenciados pelo órgão ou entidade ambiental competente. Além dos impactos de contaminação, a decomposição do lixo produz metano (CH4), um dos gases que mais contribui com o efeito estufa. A disposição adequada de resíduos em aterros sanitários não elimina a produção de metano, também chamado “biogás”, motivo pelo qual a redução na geração de lixo é fundamental para reduzir o impacto causado ao planeta. De acordo com estudo recente do Banco Mundial¹, o cenário ideal para redução de emissões de carbono oriundas de resíduos seria a queima do metano, com 75% de eficiência de coleta, em 100% dos aterros. A combustão completa desse gás gera dióxido de carbono (CO2), que contribui menos do que o metano para o aquecimento global. Outras ações, como a compostagem aeróbia doméstica dos resíduos orgânicos, que não gera metano, também são importantes. Hoje em dia, no Brasil, uma parcela pequena do biogás gerado pelos resíduos é queimada.
Além da disposição dos resíduos coletados, outro grave problema comum no país é o hábito de se jogar lixo na rua. No domingo passado participei do movimento “Limpa Brasil! Let’s do it!” e juntamente com minha família, tornei-me um catador de resíduos por um dia. O movimento é uma iniciativa de empresários brasileiros em cooperação com a UNESCO, patrocinado por grandes empresas. Na realidade os organizadores trouxeram para o Brasil uma ação que começou na Estônia e já aconteceu em quase vinte países, entre os quais estão Finlândia, Índia, Portugal e Ucrânia. Consiste em instar as pessoas a recolher o lixo que está espalhado em sua cidade, aquele que é inadequadamente jogado nas ruas. No Brasil já foram realizadas as campanhas de Brasília e do Rio de Janeiro. Neste final de semana a ação está acontecendo em Goiânia e ainda estão agendados mutirões de limpeza em Belo Horizonte, Campinas, Guarulhos e São Paulo.
Por mais que saibamos que o problema existe, passar um dia catando lixo é uma experiência extremamente enriquecedora. Nas horas em que fiquei trabalhando nessa missão, percebi as reações das pessoas que nos viam naquele trabalho. Alguns envergonhados por não estarem participando, outros se juntaram a nós e houve aqueles que olhavam com indiferença ou com asco. Mas a maior reflexão foi sobre o que catávamos. O Plano Piloto de Brasília parece uma cidade limpa, mas não é. Como é bem vegetada, o lixo fica escondido entre as árvores e gramados. O problema é mais de educação do que de gestão de resíduos. Fiquei impressionado com a quantidade de papéis de bala e de filtros e embalagens de cigarros. Os consumidores desses produtos são, em geral, muito mal educados. Parece que a regra é jogar no chão. As pessoas não conseguem esperar para jogar o papel quando encontrarem uma lixeira. Não podem colocar a pequena embalagem no bolso. Tampouco podem apagar o toco do cigarro e depositá-lo adequadamente. Sequer sabem, ou se sabem não se importam, sobre o tempo de decomposição de seu resíduo.
Outra coisa impressionante foi a quantidade de embalagens descartáveis dos restaurantes fast food. Essas grandes redes de franquias devem ser responsabilizadas economicamente por seus resíduos, pois lucram com a venda de seus produtos e deixam o ônus da imundície com a sociedade, inclusive com aqueles que não são seus clientes. Num gramado, em volta de um desses restaurantes, era impossível não pisar no lixo, devidamente identificado com a logomarca da franquia. Acabei me convencendo de que essas redes são inimigas do meio ambiente. Copo de plástico, tampa de plástico, canudo, embalagem de sanduíche, até o guardanapo é embalado em plástico. As pessoas, depois de consumir, acreditam que existe uma magia universal que faz aquele monte de resíduos desaparecer milagrosamente. Afastar o lixo dos olhos é suficiente para ter a sensação de que aquilo não existe mais.
Fiquei imaginando o que pensam os profissionais da limpeza urbana, ou aqueles catadores autônomos que tiram seu sustento do que não nos serve mais. São pessoas simples que muitas vezes não têm acesso ao consumo que gera os resíduos que coletam. Devemos valorizar muito essa gente. Depois da catação passei a dar ainda mais importância ao seu trabalho. Esses trabalhadores mitigam, com seu suor, o impacto de uma multidão de irresponsáveis abastados tidos como pessoas mais importantes do que eles.
Além de tudo o que observamos, foi triste ver fezes de cachorros espalhadas por todos os lados, oriundas de animais que passeiam com seus donos, já que em Brasília praticamente não há cães vadios. A maioria não cumpre a legislação que obriga catar a caca que os animaizinhos produzem confortavelmente fora dos caríssimos apartamentos das superquadras.
O “Limpa Brasil” não vai resolver diretamente o problema da sujeira das cidades brasileiras com as ações pontuais de catação, mas é um importante instrumento de reflexão, marketing e educação para a mudança do nosso comportamento.
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1. ALVES, J. W. S. & C. DE GOUVELLO (Coord.). Estudo de Baixo Carbono para o Brasil – Relatório de Síntese Técnica – Resíduos. O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento / Banco Mundial. 2010. 112 pp. (disponível em http://www.esmap.org/esmap/sites/esmap.org/files/Waste_Portuguese_final_09-12.pdf)

domingo, 19 de junho de 2011

O que você faz com o que não usa mais?

por Joaquim Maia Neto

A pergunta acima foi formulada a algumas pessoas, inclusive a mim, por uma artista plástica que trabalha com resíduos. Apesar de simples, a questão causou certo constrangimento às pessoas, não pela dificuldade em responder, mas pelo conteúdo das respostas.

Quando jogamos alguma coisa no lixo, temos a sensação de que aquilo deixou de existir, mas não é isso o que acontece. As coisas não desaparecem como mágica, apenas são afastadas da nossa presença, o que não significa que não continuarão a produzir efeito em nossas vidas. 

Centro de Reciclagem do Varjão - DF

Uma experiência interessante, que todos deveriam ter e que eu tive na última semana, foi uma visita a uma associação de catadores de resíduos. Foi tão interessante quanto outra que eu fiz a um lixão. Lugares como esses nos mostram quão grande é nossa capacidade de emporcalhar o mundo, mas também nos ensinam como reduzir nosso impacto no planeta.

O que chamamos de “lixo” não deveria existir. Nós criamos o lixo quando consumimos mais do que deveríamos ou quando damos um destino inadequado ao que não nos é mais útil.  Desde o ano passado está vigente no Brasil a Lei 12305, uma lei moderna, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ela estabelece a seguinte ordem de prioridade que deve ser seguida na gestão dos resíduos: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Essa hierarquia de prioridades é muito inteligente e nos ajuda a entender melhor os problemas que nosso consumo traz ao planeta.

As empresas que se utilizam do “marketing verde” têm nos levado a crer que a reciclagem é a solução de todos os problemas causados pela geração de resíduos, mas não é bem assim. Quase tudo, em tese, poderia ser reciclado, mas muitas coisas não o são porque não há viabilidade econômica. Alguns processos de reciclagem consomem mais energia ou são mais caros do que a produção com materiais virgens. Mesmo para produtos cuja reciclagem é viável economicamente, não há garantia de que realmente serão reciclados, porque em muitas cidades não há indústrias de reciclagem e a logística para o transporte dos resíduos até outra localidade pode ser muito onerosa a ponto de inviabilizar o processo. Brasília é a quarta maior cidade do Brasil, porém não há indústrias de reciclagem no Distrito Federal. Quase todo o vidro descartado na cidade vai parar no lixão, porque as empresas que compram e vendem resíduos para serem reciclados em outros estados não consideram rentável o comércio do vidro devido aos custos de transporte. Os habitantes de Brasília que descartam suas embalagens de vidros nos coletores de algumas redes de supermercados estão sendo enganados, pois acreditam que esses resíduos serão reciclados, mas seu destino é o lixão. Portanto, não devemos nos enganar com um mero símbolo de “reciclável” estampado nas embalagens dos produtos que consumimos. O Brasil recicla pouco mais de 50% das embalagens PET e menos da metade do vidro, latas de aço e papel consumidos. Apenas um quarto das embalagens longa vida são recicladas. O único produto que tem altos índices de reciclagem são as latas de alumínio, cujo percentual chega a 91,5%.

Mas será que o aumento na taxa de reciclagem está mesmo levando a uma menor utilização dos recursos naturais? Infelizmente não, porque o consumo está aumentando. Muitas latinhas de alumínio ainda são feitas com material virgem, porque as empresas estão interessadas em vender cada vez mais. É a lógica do capitalismo. A reciclagem só é feita quando representa ganho financeiro. Atravessadores e indústria são os que mais ganham e costumam jogar para baixo o preço pago aos catadores, aproveitando-se dos oligopólios regionais em que operam.

Resíduos eletrônicos abandonados

O ideal é seguir à risca a ordem de prioridade da lei. Devemos evitar a geração de resíduos. Para isso temos que rever nosso padrão de consumo. Compramos muitas coisas que não precisamos. Nosso celular novo fica obsoleto em alguns meses, mas será que eu realmente preciso comprar o último modelo? Mais fácil ainda é reduzir a geração de resíduos. Podemos comprar uma embalagem de um litro de suco, e colocar num copo reutilizável para nossos filhos levarem para a escola, ao invés de comprar cinco caixinhas de 200 ml. Muitas coisas podem ser reutilizadas. Por que comprar uma jarra se eu posso usar a garrafa de vinho vazia para armazenar água na geladeira? Antes de descartar qualquer coisa, devemos nos perguntar se esse objeto não pode ser útil para alguém, pois podemos doá-lo a quem precisa. Somente após não gerar, reduzir e reutilizar é que devemos pensar em reciclar.

Mesmo adotando uma conduta adequada, ainda assim vamos gerar muitos resíduos. Aqueles resíduos que não podemos deixar de gerar ou que não conseguimos reduzir e reutilizar devem ser encaminhados para a reciclagem. Plásticos, metais e vidros são produtos que demoram muito tempo para se decompor.  Alguns deles chegam a levar centenas de anos. Além de resolver o problema da demora na decomposição, a reciclagem pode reduzir a pressão sobre os recursos naturais, evitando o consumo de matérias primas virgens. Como a grande maioria dos municípios não dispõe de sistemas eficazes de coleta seletiva, o melhor que podemos fazer é separar nossos resíduos “secos” dos orgânicos, encaminhando-os para uma cooperativa ou associação de catadores. Caso isso seja feito de maneira organizada nos bairros, condomínios e locais de trabalho, de modo a ampliar a escala, pode-se conseguir que os catadores recolham no local de armazenamento. Essa atitude, além de contribuir com o meio ambiente, ajuda a gerar renda e a dar dignidade a milhares de famílias que ganham seu sustento a partir do que é desprezado por pessoas mais abastadas. Mesmo que você não destine seus resíduos secos a uma cooperativa, e que o sistema de coleta de sua localidade misture-os com orgânicos no mesmo caminhão, separe-os em sacos distintos, pois isso facilita muito o trabalho dos catadores e aumenta o percentual de aproveitamento dos recicláveis.

Os resíduos orgânicos tem um tempo de decomposição relativamente rápido, mas nem por isso deixam de ser um problema, porque os produzimos em grande quantidade. Nos lixões eles são responsáveis por boa parte da contaminação do solo e dos lençóis freáticos, pois se não tiverem uma disposição adequada, podem gerar muitas substâncias tóxicas. Recentemente adquiri uma composteira doméstica que utiliza minhocas para fazer o trabalho de compostagem, sem gerar qualquer cheiro desagradável. O equipamento foi desenvolvido por uma empresa de Brasília chamada “Minhocasa” e impressiona por seus resultados. É possível, com o uso dessa vermicomposteira, transformar cerca de 95% dos resíduos orgânicos em húmus de minhoca e fertilizante líquido, que podem ser utilizados na adubação de plantas. Cada brasileiro produz em média 1,152 Kg de resíduos por dia, sendo que 55% desses são de origem orgânica. O custo médio da coleta de resíduos domiciliares urbanos no Brasil é de R$ 0,10 por Kg, o que implica uma despesa ao país de quase de 9 milhões de reais por dia em coleta de resíduos orgânicos. Se o governo resolvesse subsidiar para a população vermicomposteiras que processam os resíduos orgânicos de uma família de quatro pessoas, em cerca de dois anos o equipamento se pagaria com a economia de despesas da coleta do lixo orgânico, com a vantagem de não poluir o ambiente e de estender muito a vida útil dos aterros sanitários. O único “inconveniente” seria a redução em mais da metade do lucro das poucas empresas que atuam no setor de coleta de resíduos e que embolsam milhares de reais dos cofres públicos. 

Lixão de Brasília - DF
(foto Câmara dos Deputados)

A Lei 12305 determina que os municípios tenham aterros sanitários, ao invés dos lixões, até o ano de 2014. É muito difícil que essa meta possa ser cumprida, principalmente para os pequenos municípios. Uma das soluções é a constituição de consórcios intermunicipais para que a disposição final adequada dos rejeitos possa ser feita conjuntamente, otimizando os resultados e reduzindo os custos. Uma das coisas boas que se espera do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC é o financiamento de aterros sanitários nos pequenos municípios.

Outro importante avanço contido na Política Nacional de Resíduos Sólidos é o mecanismo denominado “Logística Reversa”, que obriga a todos os envolvidos na produção e distribuição de produtos como agrotóxicos, eletroeletrônicos, lâmpadas, lubrificantes, pneus, pilhas e baterias, a estabelecer mecanismos de coleta e destinação adequada dos produtos após o seu uso. Nada mais justo, pois quem ganha com a produção deve se responsabilizar pelos danos gerados ao meio ambiente pela sua atividade.

Da próxima vez em que você for descartar alguma coisa, pense nas consequências do seu ato e procure dar ao objeto a melhor destinação possível. Clique aqui e veja algumas dicas.