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domingo, 15 de abril de 2012

Extinção é para sempre

Por Joaquim Maia Neto
A extinção de espécies é um fenômeno natural, inerente à evolução biológica, mas foi descoberta antes da consolidação da teoria evolutiva. Foi a partir dos trabalhos do naturalista francês Georges Cuvier, realizados no final do século XVIII com fósseis de animais aparentados aos atuais elefantes, que a comunidade científica aceitou o fato de que as espécies se extinguem.
Hoje em dia se sabe que todas as espécies um dia desaparecerão. Os motivos das extinções são vários, como mudanças climáticas, catástrofes naturais, aparecimento de espécies mais adaptadas a um determinado ambiente, entre outros.
As taxas de extinção durante a história da vida na Terra não são constantes. A paleontologia demonstra que ao longo do tempo geológico existiram picos de redução na biodiversidade, motivados por algum fator ambiental. A ciência ainda discute as causas das extinções em massa que ocorreram no nosso planeta e, entre as explicações mais debatidas estão as glaciações, movimentações de placas tectônicas em larga escala, redução da quantidade de oxigênio dissolvido nos mares e grandes erupções vulcânicas. O fenômeno mais conhecido pelo público em geral é a extinção dos dinossauros que provavelmente foi causada por uma grande alteração climática no planeta, que seria consequência da colisão de um gigantesco asteróide com a Terra. 
Cabra-das-cavernas
(Myotragus balearicus)
fonte: http://www.io9.com/

Outro episódio de extinção em massa que passou a ser conhecido pelo grande público foi o desaparecimento dos grandes mamíferos ao final da última glaciação, que ocorreu entre 9 e 15 mil anos atrás. Animais fantásticos como a cabra-das-cavernas, o mamute, o rinoceronte-lanoso e a preguiça-gigante deixaram de existir. Essas extinções seriam o início do que se chama de “Extinção em Massa do Holoceno” que estaria acontecendo até os dias atuais.
Para que o entendimento das extinções em massa traga lições voltadas à conservação da biodiversidade, convém que aquelas ocorridas no final da última glaciação sejam tratadas separadamente do atual pico de extermínio de espécies. Isso porque provavelmente as extinções dos grandes mamíferos do gelo aconteceram devido a causas naturais, apesar de alguns autores a associarem à caça empreendida por populações humanas. As atuais são, sem dúvida, frutos da ação degradadora do homem sobre a natureza.
Hoje as espécies estão desaparecendo principalmente devido à destruição do seu hábitat, à introdução de espécies invasoras nos ambientes e ao aquecimento do planeta causado pela emissão de gases do efeito estufa pelas atividades humanas. De 1987 até 2007 foram oficialmente catalogadas 784 extinções, porém sabemos que esse número é muitíssimo subestimado, pois um número muito pequeno das espécies desaparecidas é efetivamente detectado. Os cientistas acreditam que estamos passando por um drástico período de extinção em massa. Estima-se que no último século tenham se perdido entre 20 mil e dois milhões de espécies e que a taxa atual de extinção  chegue a 140 mil espécies por ano. Cada hectare de floresta destruída ou cada corpo hídrico poluído pode levar ao fim dezenas de espécies, sendo que algumas delas podem ser desconhecidas pela ciência. Pequenos peixes, insetos e outros organismos de tamanho reduzido, que vivem neste planeta há milhares de anos, desaparecem sem que tenham sido conhecidos pela humanidade. O ritmo atual de destruição da natureza está provocando uma das maiores perdas de biodiversidade ocorridas desde o início da vida na Terra.
Na medida em que a população humana aumenta, o número de espécies diminui. Somos competidores, consumidores e predadores, com grande vantagem sobre as demais formas de vida, que não conseguem sobreviver a não ser que usemos nossa inteligência para regular nossa própria demanda pela utilização dos recursos naturais.
Não é de hoje que desrespeitamos as demais criaturas. Até muito recentemente espécies foram extintas pela perseguição implacável empreendida pelo homem até o último exemplar. Uma verdadeira demonstração de barbárie que deveria envergonhar qualquer um que se identifica como humano. Exemplos infelizmente são fartos.
O pombo-passageiro (Ectopistes migratorius) foi a ave mais abundante do planeta. Sua população chegou a cinco bilhões de indivíduos apenas nos EUA. Há relatos de bandos com centenas de quilômetros de extensão que levavam vários dias para atravessar uma região. Caçados incasavelmente para alimentação humana e animal, foram sendo dizimados muito além do que sua capacidade reprodutiva permitia fazer para a reposição das populações. Registros históricos indicam que quase todos os indivíduos de um dos últimos bandos, com cerca de 250 mil espécimes, foram mortos numa única caçada em 1896. O último indivíduo em estado selvagem foi morto em Ohio em 1900 e o último exemplar cativo, uma fêmea chamada Martha, morreu no Zoológico de Cincinnati em 1914.
Um tilacino caçado em 1869
Fonte: Wikipedia
O tigre-da-tasmânia (Thylacinus cynocephalus), também chamado de tilacino, era um grande e belo marsupial predador, nativo da Austrália. De tigre só tinha o nome e as listras. Quando da colonização européia os tilacinos já estavam extintos na Austrália continental, mas sobreviviam na Tasmânia. Com a colonização da ilha, os tilacinos passaram a ser considerados uma praga perigosa para os rebanhos de ovelhas. Uma foto de um espécime predando uma galinha foi amplamente divulgada e trouxe ao animal a fama de ladrão. O governo passou a oferecer recompensas em dinheiro para cada cabeça de tilacino abatido e isso causou um enorme declínio em suas populações. A caça, juntamente com a introdução de cães no seu ambiente, doenças de animais domésticos, a extinção de suas presas e a destruição do seu hábitat o levaram a extinção. O último animal abatido foi morto por um fazendeiro em 1930 para proteger suas galinhas. O último tilacino vivente foi capturado em 1933 e enviado ao Zoológico de Hobart, na Tasmânia, onde morreu em 1936 por negligência dos tratadores.
O Brasil também tem seus representantes entre as espécies recentemente extintas. É o caso da arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus), que habitou a região dos Pampas e as baicas dos rios Paraná e Paraguai. O último espécime conhecido morreu em 1912 no zoológico de Londres. Caça e captura foram as causas de seu desaparecimento.
Golfinho-do-yang-tsé
Fonte:
 http://www.saudeanimal.com.br/
Muitos outros exemplos de extinções recentes de origem antrópica podem ser citados, como o arau-gigante (Pinguinus impennis), uma ave ártica não voadora, caçada até a extinção, em 1844, devido à demanda por sua carne, gordura, ovos e penas para adorno, ou ainda o golfinho-do-yang-tsé (Lipotes vexillifer), um cetáceo chinês declarado extinto na natureza em 2007, vítima da poluição, navegação excessiva, caça e construção de hidrelétricas no rio que era seu hábitat.
Tantos outros habitantes desse nosso pequeno planeta estão à beira da extinção, simplesmente porque não aprendemos a conviver harmoniosamente com eles. Podemos citar a baleia-franca, o crocodilo-chinês, o rinoceronte-negro, o mico-leão-dourado e o tigre, sem falar das espécies vegetais.
Recentemente a potencial extinção de uma espécie endêmica de bagre que poderia desaparecer como consequência da construção de uma usina hidrelétrica no Brasil foi tratada com desdém pelo mais alto mandatário brasileiro, que considerou à época que um “bagrinho não poderia travar o desenvolvimento do país”. Lamentavelmente o autor da frase foi apoiado por grande parte da população e até por parte da mídia que, ao mesmo tempo em que “se preocupa” com a iminente extinção do panda-gigante, desconsidera que todas as espécies são intrinsecamente importantes pelo simples fato de existirem.
Não bastasse o valor intrínseco de cada espécie, sua importância reside ainda no fato de que a natureza é como uma pirâmide construída de pequenos blocos. Quando alguns desses blocos são retirados a estrutura desmorona. Se uma espécie animal é dizimada, por exemplo, pela conversão em pastagem da floresta na qual vivia, isso representa uma verdadeira catástrofe para o equilíbrio natural.
A vida, qualquer que seja ela, deve ser vista como algo sagrado. É preciso que se difunda a noção do direito de existência de todas as espécies que co-habitam o planeta conosco. A visão antropocêntrica e utilitarista com a qual olhamos para a natureza é a responsável pelo estado crítico em que deixamos o ambiente. Este planeta não é apenas nosso. É o lar de bilhões de seres, sejam eles microorganismos, plantas, animais ou fungos, que assim como nós não têm outro lugar para habitar neste imenso universo. Se não tivermos a capacidade de entender isso e de garantir a vida dos nossos companheiros de moradia, iremos indubitavelmente antecipar em muito a nossa própria extinção.

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