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domingo, 5 de fevereiro de 2012

O direito de saber o que se consome


Por Joaquim Maia Neto
Hoje em dia consome-se uma grande quantidade de alimentos industrializados. Ao contrário dos nossos antepassados, boa parte da nossa dieta é muito diferente daquilo que a natureza nos oferece. Nossos ancestrais mais remotos caçavam ou extraiam dos vegetais os nutrientes dos quais precisavam para sobreviver. Outros ascendentes, não tão distantes assim, passaram a produzir seu próprio alimento criando animais domésticos ou cultivando grãos, hortaliças, frutas, entre outros produtos vegetais. Essa realidade era muito comum há poucas gerações atrás e ainda persiste no interior do país, em situação cada vez mais rara. A urbanização faz com que nos distanciemos da produção a ponto de nossas crianças não terem a noção de que o bife que está no prato na hora do almoço é um pedaço de um animal ou que a batata frita cresceu embaixo da terra.
Fonte: http://www.anutricionista.com/
No caso dos alimentos que são consumidos in natura, não é tão difícil fazer associação com as espécies das quais eles se originam. O mesmo não pode ser dito a respeito dos produtos processados pela indústria alimentícia. Mistura-se tanta coisa, incluindo o alimento em si e todos os aditivos, que até os mais empenhados em se informar sobre o que comem têm dificuldade em saber o que estão ingerindo e quais os benefícios e desvantagens daquele produto ao seu organismo.
Lamentavelmente a indústria de alimentos se preocupa muito mais com a aparência e o potencial de comercialização do que com a riqueza nutricional e a segurança à saúde de seus produtos. Isso não é por acaso. Produtos industrializados são desenvolvidos levando-se em conta detalhadas pesquisas de mercado que subsidiam a decisão da indústria sobre o que vai ser lançado e como esse produto será produzido e apresentado. O consumidor é quem pauta a indústria e é ele próprio quem estimula a produção de alimentos aditivados com substâncias pouco saudáveis ao manter o hábito de escolher pela aparência e não pelo valor intrínseco do alimento.
Alguns aditivos, como os conservantes, estão relacionados à praticidade de poder estocar o produto por muito tempo, viabilizando o transporte por grandes distâncias ou a aquisição em grandes quantidades que demorarão a serem consumidas. As grandes indústrias expandem seu mercado por todo o país e extrapolam até mesmo os limites nacionais. A logística para essa distribuição exige a conservação do alimento por mais tempo. O ritmo de vida adotado nas cidades não permite que as pessoas gastem tempo comprando produtos frescos diariamente, ou pelo menos algumas vezes na semana. Recorre-se então aos alimentos industrializados e seus conservantes que impedem, ou pelo menos adiam, a transformação do produto em uma colônia de bactérias ou fungos.
A preocupação com ingestão de calorias, tão em moda na atual época em que a aparência conta mais do que o conteúdo, faz crescer a utilização dos edulcorantes (adoçantes). O mercado de alimentos de baixa caloria atende também à demanda de pessoas diabéticas, que devem restringir a ingestão de açúcares. As pessoas muitas vezes se esquecem que os edulcorantes artificiais podem fazer mais mal do que o açúcar que evitam ingerir. Pesquisas mostram que esses aditivos, assim como alguns conservantes e corantes, estão relacionados ao aumento de incidência de câncer. Existem edulcorantes naturais como, por exemplo, os extraídos de plantas do gênero Stevia, que são altamente eficientes e não prejudicam a saúde. Infelizmente edulcorantes e corantes naturais costumam ser preteridos pela indústria devido ao custo, praticidade ou resultado em termos de sabor ou aparência.
Aliás, para que servem os corantes alimentares? Qual o problema se o suco de morango não fica tão vermelho quanto à fruta in natura? O sabor não muda com a adição do corante. A indústria só o acrescenta porque as pessoas preferem o mais “vermelhinho”, não raciocinando sobre o prejuízo que isso traz à saúde.
Consumidores caem em armadilhas nutricionais pela falta de informação. Para ter uma dieta com menos calorias, é preferível continuar comendo os alimentos tradicionais em menor quantidade, do que recorrer aos “venenos” disseminados pela indústria de alimentos. Ao invés de ficar bebendo refrigerante diet, que está repleto de edulcorantes nocivos, elimine ou reduza drasticamente o consumo desse tipo de bebida, substituindo-o por sucos naturais. Use manteiga em menor quantidade ao invés de consumir margarinas, que são basicamente gorduras trans.
Conservantes, gorduras trans, edulcorantes e corantes artificiais, além de altos teores de sódio e de açúcares são os grandes vilões dos produtos industrializados.
O maior desrespeito para com o consumidor está nas “pegadinhas” das embalagens. A ANVISA ainda é muito falha como entidade reguladora, pois permite que a indústria se utilize de artifícios para ludibriar a população. O caso das gorduras trans é um exemplo. A Agência permite que o fabricante declare que seu produto é livre dessa gordura altamente prejudicial, se o mesmo tiver até 0,2g por porção. Ocorre que quem determina o tamanho da porção é a própria indústria, que muitas vezes o reduz para poder alegar que o produto é saudável, quando na verdade não é. Não existem níveis seguros para ingestão de gorduras trans. Qualquer quantidade é prejudicial. Outra falha na legislação é que não é obrigatório escrever por extenso, na lista de ingredientes, o termo “gordura vegetal hidrogenada”. É comum o fabricante escrever apenas “gordura vegetal” num produto que contem o tipo hidrogenado, que é uma gordura trans produzida artificialmente. A saída para o consumidor é ler a lista de ingredientes em idioma estrangeiro, pois muitos países exigem a discriminação, mas isso só é possível nos produtos que também são distribuídos no mercado externo.
É bom saber que qualquer gordura de origem vegetal que permanece no estado sólido à temperatura ambiente é prejudicial à saúde, pois ou é hidrogenada ou interesterificada. Por isso evite as margarinas.
O consumidor deve ter o direito de saber o que está comprando. As listas de ingredientes e tabelas nutricionais em letras minúsculas são desrespeitosas. Urge uma legislação que obrigue a indústria a colocar alertas em tamanho grande nas embalagens, para que o consumidor não seja enganado. Até para com os alertas obrigatórios os fabricantes dão um jeito de se esquivar. A Pepsico coloca o símbolo de produto transgênico próximo à dobra inferior das embalagens dos seus salgadinhos “Elma Chips”, feitos com milho geneticamente modificado. Na gôndola do supermercado o alerta fica escondido, porque a dobra normalmente o cobre.
Fonte: http://www.netconsumo.com/
Se eu, que sou ovolactovegetariano, sofro ao escolher meus produtos no mercado, imaginem os veganos. Um dia desses comprei um hambúrguer de soja, que tinha leite e ovo na sua composição. Para mim, tudo bem, mas um vegano poderia ser enganado dado o tamanho diminuto das letras dos ingredientes. E no fast food, será que o hambúrguer de soja é realmente cem por cento de origem vegetal? É um saco ter que ficar procurando letrinhas miúdas para saber se o iogurte tem gelatina, que é feita de pele e ossos de bois e porcos (sabia disso?), ou se o suco de caixinha é colorido com carmim de cochonilha, um corante extraído de insetos.
Para quem consome qualquer tipo de alimento, essa discussão pode parecer “frescura”, mas o que está em questão é o direito à informação. Da mesma forma que temos o direito de saber que a cerveja “sem álcool” tem até 0,5% de álcool, ou que o tomate foi produzido com o uso de agrotóxicos, ou ainda que a roupa de uma grande rede comercial utiliza mão-de-obra escrava, também devemos saber se o calçado esportivo é fabricado com couro ou com material sintético e se a comida tem substâncias nocivas à saúde. Cabe ao consumidor boicotar produtos que enganam ou omitem informação e pressionar parlamentares e instituições reguladoras para que legislem e regulamentem pensando mais no interesse público do que no lucro da indústria.

Um comentário:

  1. Olá Joaquim. Primeiramente, gostaria de parabenizá-lo pelo blog, que é super interessante para pessoas que se interessam pela luta ambiental, associada a sustentabilidade. Mas um texto em particular me chamou a atenção (http://www.opiniaosustentavel.com.br/2011/09/producao-de-alimentos-x-conservacao-um.html) pois nele vc expõe algo desconhecido pela sociedade num geral, que o problema do embate meio ambiente x agricultura não é a agricultura em si, mas alguns produtores. E o que eu queria saber, é se você tem material com fontes do que disse, com noticias, pesquisas, etc sobre o que você falou, como a baixa renda da pecuária, os interesses políticos por trás das mudanças no CFlo, etc. Estou fazendo uma monografia da faculdade abordando o tema "Aplicabilidade sustentável das áreas de preservação permanente" e seria de grande ajuda se você pudesse me mandar algumas fontes. Se puder, por favor, meu email é dvieirar@hotmail.com. Desde já agradeço pela atenção.

    Abraços, Diogo.

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