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domingo, 3 de junho de 2012

O caos é uma opção

Por Joaquim Maia Neto

O colapso do transporte urbano parece estar chegando ao seu ápice nas grandes cidades brasileiras. Na última sexta-feira a cidade de São Paulo bateu um recorde histórico. Por volta das 19 horas a Companhia de Engenharia de Tráfego registrou 295 Km de congestionamentos. Motoristas demoravam cerca de 30 minutos para percorrer uma quadra. Taxistas ouvidos pelas equipes de reportagem dos principais veículos de imprensa manifestaram interesse em deixar a profissão. A cidade que não para, dessa vez parou.

Situações não tão drásticas, mas semelhantes, acontecem diariamente nas grandes e médias cidades brasileiras. O trânsito é um problema cada vez mais sensível às pessoas. A cada dia mais horas de nossas vidas são consumidas inutilmente no lento e estressante deslocamento entre casa e trabalho. O que ocorreu em São Paulo no primeiro dia de junho demonstra a irracionalidade dos sistemas de mobilidade urbana e das opções feitas pelos cidadãos.

Todo mundo sabe como resolver o problema, mas nada ou muito pouco é feito no sentido de melhorar a situação. É impressionante ver como se caminha para um caos anunciado sem que haja um movimento na sociedade que leve a uma mudança radical e necessária na forma como as pessoas se deslocam pelo espaço urbano.

Continuar reclamando que o transporte público é ruim, mantendo o comportamento de entupir as vias públicas com automóveis particulares, muitas vezes ocupados apenas pelo condutor, é algo que me parece muito mais do que comodismo. Soa patológico. Não é possível que alguém que goste de si e que tenha sanidade mental se disponha a passar tamanho aborrecimento diário, durante meses, anos seguidos, desperdiçando sua vida preso ao interior de um carro, em meio a uma atmosfera contaminada com altos teores de monóxido de carbono, para percorrer um determinado trajeto gastando muito mais tempo do que se o fizesse a pé.

O transporte público não irá melhorar enquanto a maioria daqueles que têm condições de adquirir automóveis não utilizá-lo. É preciso deixar o carro em casa, ainda que num primeiro momento isso gere um colapso no transporte público, ainda que se chegue atrasado ao trabalho, ainda que cause certo desconforto. Afinal, atrasos e desconforto já fazem parte da realidade de quem fica preso no trânsito infernal das metrópoles brasileiras.

O uso do ônibus, do trem e do metrô pelas pessoas com mais condições de brigar por seus direitos tende a pressionar governantes a melhorar o sistema de transporte público. Há inúmeras vantagens em deixar o carro. É ótimo não precisar ficar procurando vagas para estacionar e não ter que se preocupar se vão furtar o veículo ou algum de seus acessórios. Ir a um happy hour sem a preocupação de ter que conduzir veículo com certo teor de álcool no sangue é muito mais seguro e prazeroso. Tudo isso se tornará possível muito rapidamente quando a reivindicação principal for pela melhoria do sistema público de transporte que usamos, ao invés dos alargamentos ou construções de novas vias.

Infelizmente o lobby da indústria automobilística é um verdadeiro câncer para as cidades. Com publicidade muito bem feita, recheada de atores e atrizes, jogadores de futebol e apresentadores de TV, as montadoras vendem como solução algo que constrói o inferno coletivo. Têm como grandes aliados os governos municipais, que se omitem ou são incompetentes nas suas obrigações quanto ao planejamento urbano, os estaduais, que vivem dando incentivos à instalação de fábricas de automóveis, e o federal, que habitualmente reduz tributos para ajudar a vender mais carros.

Veículo Leve sobre Trilhos na Europa
O ideal seria que as famílias tivessem um carro para as viagens ou finais de semana. Hoje cada membro tem seu automóvel. O padrão que se idealizou é o de uma falsa independência que o carro particular traz. Caso se esteja “motorizado”, pode-se fazer tudo. Depender de ônibus é visto como sofrimento.

Sinceramente eu me irrito quando vejo as pessoas reclamarem do trânsito. Parece um masoquismo, um prazer em sofrer com algo que pode ser evitado. Reclamar do transporte público é bom, desde que a pessoa esteja usando. Mas é difícil tolerar aqueles que ficam falando mal sem nem saber qual é a linha que passa perto do seu trabalho.

Bicicletas elétricas
Algumas belas iniciativas estão em curso, fruto da inteligência daqueles que, ao invés de teimar e reclamar, optam por mudar a realidade. Muitas empresas estão permitindo aos seus empregados trabalhar em casa. Usam a tecnologia para possibilitar aos colaboradores cumprirem com seus compromissos profissionais sem ter que se deslocarem. Com isso, evitam movimentações inúteis. Cada vez mais pessoas usam a bicicleta como meio de locomoção, enfrentando preconceitos e lutando por mais segurança para os usuários deste meio sustentável de transporte. Contrariando as tradicionais promoções dos shoppings que sorteiam carros nas datas voltadas ao consumismo, o Shopping Conjunto Nacional, de Brasília, inovou positivamente sorteando diariamente pares de bicicletas elétricas durante o “mês dos namorados”. Que maravilha seria se esse tipo de transporte se difundisse. Aqueles que não querem chegar suados ao trabalho poderiam ainda assim contribuir para a melhoria do trânsito e do meio ambiente, e até da sua própria saúde, caso decidam pedalar no caminho de volta.

Um evento paralelo à Rio + 20 discutirá nos próximos dias 14 e 15, entre outros temas, o desenvolvimento de sistemas integrados de transporte urbano. O Rio de Janeiro sediará o fórum “Megacidades 2012 – Transporte, Energia e Desenvolvimento Urbano”, no qual se espera que os administradores públicos brasileiros acordem para a necessidade de implantar aqui as experiências bem sucedidas de outros países que estão muito à nossa frente na solução dos problemas de mobilidade urbana. É uma grande oportunidade, embora as soluções serão obtidas muito mais rapidamente quando a sociedade brasileira romper com a cultura da dependência em relação ao automóvel.

Um comentário:

  1. Na verdade, os transportes urbanos públicos de ônibus necessitam que as próximas licitações incluam concorrência entre as empresas.

    Imaginemos se para irmos de Brasília a São Paulo de avião, só tivéssemos a TAM; para ir ao Rio, só tivéssemos a Gol. Os serviços seriam ruins muito provavelmente, e os preços maiores, os horários poucos.

    Do mesmo modo, em uma linha como o Grande Circular em Brasília, deveria ser estipulado frequência de 25 minutos, sendo que p. ex. às 8h00 saísse um da Empresa A, às 8h25 um da Emprêsa B, e às 8h50 outro da Empresa A. Incluir uma Empresa C poderia ser benéfico.

    A solução do transporte urbano de ônibus passa necessáriamente pela concorrência e maior atenção das secretarias de transporte público.

    É preciso se exterminar a ideia da empresa única para cada linha concedida.

    Aqui em Brasília, tradicionalmente os idosos nos pontos ao fazerem o sinal, não conseguem fazer o ônibus parar para recolhê-los. Os empresários sabem disso, supõe-se sua participação neste ato horroroso. O estado colabora, pois não há fiscalização, e os casos delatados não causam nenhuma mudança nesta situação, na capital federal do Brasil.

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