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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Coisas que me chateiam

Por Joaquim Maia Neto
Há alguns acontecimentos do cotidiano que são relativamente comuns, mas que me chateiam bastante. Uns chegam a me deixar irritado e outros me fazem refletir sobre a dificuldade que as pessoas têm em conviver umas com as outras, em respeitar o direito alheio, em se colocar no lugar do outro, em conservar a natureza.
É chato falar de coisas chatas, porém mais chato ainda é passar por elas sem dizer nada. A tolerância é uma virtude que precisa ser cultivada por todos nós, mas isso não significa que tenhamos que nos omitir diante da falta de respeito. Refiro-me não apenas ao respeito às pessoas, mas também ao respeito aos demais seres vivos e ao planeta.
A lista de chateações é extensa e por isso irei poupar os leitores de boa parte delas, pelo menos neste artigo. Talvez, numa próxima oportunidade, apresentarei outros exemplos.
Fico muito satisfeito em poder ir ao trabalho todos os dias de ônibus. Considero um grande privilégio poder deslocar-me pela cidade utilizando transporte coletivo com rapidez e razoável conforto. Sei que essa não é a realidade da maioria dos brasileiros. Conforta-me saber que posso servir de exemplo para que outras pessoas percebam como não é difícil mudar seus hábitos para torná-los menos impactantes ao meio ambiente. Recebo como bônus o benefício de não ter a preocupação de procurar lugar para estacionar o carro, o que é uma grande vantagem na atual conjuntura de disputa ferrenha por uma vaga. Mas como nada é perfeito, sou obrigado a observar atitudes egoístas no coletivo. 
Fonte: http://www.zonadamatamg.com.br/
Não consigo perder o hábito de observar o comportamento das pessoas na cena urbana. Costumo divertir-me com isso, vendo a diversidade cultural representada nas ruas da cidade. Mas também vejo muita falta de educação. E aí vai a primeira das chateações: não há nada mais sacana do que o sujeito, no ônibus urbano, se acomodar no assento do corredor, deixando vago o da janela. Apesar de arranjarem dezenas de justificativas para esse comportamento, os que o praticam o fazem por um único motivo, que é não querer compartilhar o espaço com algum desconhecido. Ninguém tem coragem de negar a passagem a alguém que peça licença para sentar na janela, mas o constrangimento causado não só é evidente, como é o objetivo de quem causa a obstrução. Tem gente que chega ao cúmulo de fingir estar dormindo ou de simular extrema concentração na leitura de um livro para ter êxito no seu egoísmo. Essa prática também é utilizada para não ceder o espaço a gestantes, idosos e outras pessoas que têm preferência na acomodação. Percebe-se que o indivíduo utiliza-se do transporte coletivo a contragosto. Prefere não estar ali, dividindo o espaço com pessoas diferentes. Há os que preferem viajar em pé a ter que solicitar passagem para sentar ao lado de quem opta pela atitude segregadora, o que acaba atendendo à expectativa dos mal-educados.
Existem chateações que são difíceis de explicar a quem as causa. Você já deve ter ouvido falar de uma marca de cafeteira chamada “Dolce Gusto”. A marca é associada à famosa grife de café “Nescafé”, da companhia suíça Nestlé, que recentemente esteve envolvida em escândalos relacionados à promoção de desmatamento em áreas sensíveis na Indonésia e ao descumprimento da legislação de proteção ao consumidor no Brasil. A tal cafeteira, com a qual tenho que me deparar todos os dias no trabalho, funciona com cápsulas plásticas cujo conteúdo é suficiente para o preparo de um único cafezinho. Cada vez que alguém resolve tomar um café, uma cápsula vira lixo. E o pior é que é inviável reciclar essas cápsulas. A máquina faz um micro furo em um selo metálico que veda a cápsula e o pó de café usado permanece contido na embalagem após o preparo da bebida. A logística para retirar o selo e o pó da embalagem torna o processo de reciclagem extremamente oneroso, ao ponto de inviabilizá-lo. Você acha que quem toma o café se preocupa em retirar o selo e lavar a embalagem? Isso “dá trabalho”! Falar sobre o assunto rende apelido de xiita. Já virei motivo de piada por causa disso. Não consigo desassociar o comportamento dos consumidores do “Dolce Gusto” daquele dos fumantes que jogam as bitucas acesas no chão. Ter que apagá-las e jogá-las no lixo é demais! 

CLIQUE NA FIGURA PARA VER EM TAMANHO MAIOR
Printscreen da página de perguntas frequentes do SAC da Nestlé. Arte de http://www.aventurasgastronomicas.com.br/
Permitam-me apenas mais uma. Essa me irrita profundamente. As chamadas “podas radicais” nas árvores, que apesar do nome não são feitas nas raízes, são o cúmulo da insensatez. Executadas com a complacência dos administradores das urbes, quando não realizadas a mando dos próprios, constituem uma verdadeira mutilação dos seres que prestam relevantes serviços ambientais, como a mitigação do barulho, o sequestro de carbono, o conforto térmico, o embelezamento da paisagem urbana, entre tantos outros. A retirada total da copa, além de deixar a árvore  com aspecto sofrido, impede por longo tempo que a mesma desempenhe a grande maioria de suas funções ecológicas e torna-a suscetível a diversas infecções causadoras de doenças. É comum, após várias podas desse tipo, cortar a árvore sob o argumento de que está condenada. Só não se diz que o que a condenou foi o tratamento cruel ao qual a planta foi submetida. A motivação para a mutilação arbórea é torpe: exposição de fachadas, folhas que “sujam” o chão e entopem calhas, placas publicitárias que precisam ser vistas para a promoção do consumo, ou qualquer outra firula que a ignorância humana possa fomentar. Associo a imagem a um ser triste, de braços estendidos aos céus clamando por um pouco de iluminação às mentes inebriadas que condenam o futuro para fruir as efemeridades da sociedade de consumo.
Fonte:
 http://www.revolucoes-por-minuto.blogspot.com/

Por enquanto fico apenas nestas para não irritá-lo ainda mais, caro leitor. Escrever sobre o que me chateia é terapia para cultivar a tolerância positiva e aplacar a irritação alimentada a cada passeio crítico pela cidade.

2 comentários:

  1. Caro Colega,
    compartilho contigo sobre essas chateações...o desrespeito do ser humano para com ele mesmo, com o próximo e com outros seres vivos torna-se por vezes irritante. A sugestão que acredito para esse mal da sociedade brasileira, é a educação, em todos os níveis infantil,fundamental, médio e superior, em comunidades,e principalmente nas famílias,educação começa em casa. E de todas as formas:formal nas escolas e faculdades, informal em associações e comunidades, na mídia, educação ambiental também como forma de aprendizado. eu se que isso pode parecer utopia, mas acredito na transformação, a passos lentos, bem lentos, mas um dia ela acontece, para isso é que nós ambientalistas, defensores da qualidade de vida, profissionais que atuam nas áreas de meio ambiente estamos trabalhando e enfrentando o desafio de sermos chamados de xiitas ou eco-chatos, não importa, temos uma ideia concebida sobre a vida e isso torna-se uma virtude, representada pela palavra Respeito.

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    1. Concordo com você, Mônica. Somente a educação poderá mudar essa realidade. É um processo demorado, mas a cada passo ele se consolida. Soluções rápidas e fáceis geralmente não são eficazes. Parabéns pelo seu idealismo e luta. Obrigado pelo comentário.

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