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domingo, 1 de julho de 2012

Da Rio+20 às sacolinhas paulistas: estamos longe da verdadeira sustentabilidade


Por Joaquim Maia Neto

Encerrada a Rio+20, as avaliações são distintas. Para os pessimistas, o fracasso previsto da Conferência se concretizou. A incapacidade dos governos em encontrar uma solução consensual para os maiores problemas ambientais e sociais da humanidade foi refletida em um documento pobre, no qual os poucos compromissos assumidos são absolutamente insuficientes para fazer frente aos desafios que enfrentaremos. Como esperado, os representantes das nações que subscreveram o documento final, denominado “O Futuro que Queremos”, não foram audaciosos a ponto de mostrar ao mundo um caminho de mudanças cujo horizonte temporal fosse compatível com a rapidez necessária para reverter, ou no mínimo mitigar, os prejuízos que as agressões ao planeta causarão a todos os seus habitantes.

Tradução: "Não tenho tempo..."
Os otimistas se apegam aos resultados da “Cúpula dos Povos”, um evento paralelo da sociedade civil, e às centenas de compromissos voluntários entre governos, ONGs e empresas, para anunciar que nem tudo está perdido. Na avaliação otimista, a capacidade de articulação da sociedade demonstraria que há uma consciência global que exige mudança nos rumos da atual sociedade de consumo, pautada pelo capitalismo insustentável.

A comparação entre os resultados da Cúpula dos Povos e da conferência oficial apenas demonstram o abismo que existe entre as duas visões de mundo. Estamos muito distantes de alcançar resultados compatíveis com aquilo que os movimentos sociais esperam dos governos nacionais. Um exemplo é o conceito de “Economia Verde”, um dos eixos principais da conferência oficial, que não passa de uma nova maquiagem que o sistema capitalista encontrou para continuar sobrevivendo, e que foi duramente criticado no documento final da Cúpula dos Povos.

Lamentavelmente temos que admitir que os pífios resultados da Rio+20 refletem exatamente a opinião da maioria da população mundial. Não podemos acusar os chefes de Estado de não representarem seus povos. Vejamos o que acontece no Brasil. Nem bem terminou a conferência e acaba de ser publicada a Lei12678, que desafeta áreas de unidades de conservação da Amazônia para dar lugar a novas usinas hidrelétricas. Essa lei é de iniciativa de um governo que detém 77% de aprovação, segundo as mais recentes pesquisas.

Em São Paulo um histórico acordo entre o Governo do Estado e os supermercados, que baniu as nocivas sacolinhas plásticas, acaba de ser derrubado na justiça. A postura cômoda da maioria dos consumidores que, por preguiça de levar uma sacola retornável para suas compras, reclamou da suspensão na distribuição do lixo plástico, fez com que a justiça agisse totalmente na contramão da proteção do meio ambiente.

Tanto a alta aprovação de um governo desenvolvimentista a qualquer preço, quanto a choradeira causada pelo fim da distribuição das sacolinhas são demonstrações de como a sociedade majoritariamente não valoriza a questão ambiental. Portanto, não há que se falar que os governos representados na Rio+20 estão alheios aos anseios de seus povos.

As preocupações com a economia tradicional, com o crescimento do PIB, com a manutenção dos empregos e com a saúde das instituições financeiras ainda estão à frente da preocupação com a saúde do planeta na lista de prioridades da sociedade mundial. É por isso que governantes adotam essa postura irresponsável na área ambiental. Repercutem a postura também irresponsável de seus representados.

Muitas vezes os ambientalistas, por conviverem em meio a seus pares, não percebem que falam para si mesmos e que há muito a ser transformado na sociedade. Infelizmente os participantes da cúpula dos povos, apesar de muito responsáveis e preocupados com o que realmente interessa, estão longe de representar a maioria das pessoas. Se seus interesses fossem majoritários, teríamos governos com as mesmas preocupações. Vejam a conduta dos políticos mais votados. Poucos têm compromisso com o meio ambiente. É verdade que as corporações têm maior poder de influência sobre os governos do que tem o povo. Mas elas não agem influenciando apenas o governo, mas exercem influência também sobre as pessoas.

As condutas ambientalmente corretas, ainda que minimamente, continuam sendo consideradas “radicais” e “xiitas” por parte de amplos segmentos da sociedade. Basta sair do meio “ambientalista” para perceber isso. Ainda somos considerados chatos por muitas pessoas quando recomendamos menos consumo ou o uso da sacola retornável, do transporte coletivo, da bicicleta, da ventilação natural.

Continuar brigando com governos é necessário, mas o movimento ambientalista tem a árdua tarefa de convencer corações e mentes de que o mundo vai mal e que é preciso mudar os rumos. Uma coisa é fazer uma pesquisa de opinião e constatar que a maioria dos brasileiros era contra as mudanças no Código Florestal, por exemplo. Outra coisa são as atitudes dessas mesmas pessoas que rejeitavam as mudanças. Será que elas abrem mão dos confortos propiciados pela sociedade de consumo em benefício de um futuro melhor e da redução das desigualdades sociais? Provavelmente não. E os governos sabem disso. Tanto que a Dilma não vetou integralmente o Código e sua popularidade não só não caiu, como aumentou.

Passe quinze minutos na porta de um supermercado. Veja os consumidores felizes da vida carregando quinquilharias acondicionadas em muitas embalagens, dentro das sacolas plásticas, sem nenhum remorso e digam quantos realmente estão preocupados com o documento da Cúpula dos Povos. Temos muito trabalho pela frente.

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