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domingo, 8 de julho de 2012

O Brasil é tricampeão! Um título para não comemorar.


Por Joaquim Maia Neto

Aniversários que completam décadas costumam ser mais comemorados. As pessoas parecem ter predileção por números “redondos”. Devido a essa predileção, importantes eventos ambientais têm acontecido em anos terminados em “2”, desde a Conferência sobre Meio Ambiente Humano, realizada pela ONU em Estocolmo, na Suécia, no ano de 1972. Vinte anos depois de Estocolmo tivemos a Eco 92, no Rio de Janeiro. Trinta anos depois, a Rio+10, em Johanesburgo. Quarenta anos depois, a Rio+20, que acabou de acontecer. Mas há um cinquentenário comemorado neste ano, muitíssimo importante, que muita gente desconhece ou esqueceu. Em 1962 foi publicado nos EUA o livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, denunciando os malefícios dos agrotóxicos à saúde humana e à vida selvagem. A publicação do livro foi fundamental para o banimento do DDT nos Estados Unidos, dez anos depois.

Manifestação durante a Cúpula dos Povos.
Cinquenta anos depois do lançamento da obra que é considerada o marco impulsionador do ambientalismo e da luta contra os agrotóxicos em todo o mundo, o Brasil comemora o tricampeonato mundial de envenenamento. Segundo um estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), apresentado durante a Cúpula dos Povos pela pesquisadora da UFPE, Lia Giraldo da Silva Augusto, a venda de agrotóxicos no Brasil em 2010 teve um aumento de 190% em relação a 2009. Com este aumento o Brasil foi, pelo terceiro ano consecutivo, o maior consumidor de agrotóxicos do planeta, de acordo com dados levantados pela ANVISA. Esse tricampeonato não tem nada de glorioso. É motivo de vergonha para o país e é sintomático da realidade do agronegócio brasileiro que não tem nada de sustentável, ao contrário do que afirma a Confederação Nacional da Agricultura.

O consumo de agrotóxicos no Brasil chegou ao alarmante número de 5 Kg por habitante/ano. É muito veneno! Essa situação é fruto de um modelo de agricultura perverso, que condena a saúde dos trabalhadores rurais, dos consumidores e dos ecossistemas em benefício do lucro de poucos. A destruição do ambiente natural torna a produção agrícola cada vez mais dependente dos defensivos químicos, que por sua vez agravam o desequilíbrio ambiental, formando um círculo vicioso.

Falta ao Brasil uma política pública que crie condições para que os pequenos agricultores possam produzir alimentos sadios para a população, com incentivo à agricultura familiar e ao respeito à natureza e aos conhecimentos tradicionais. O montante de recursos aplicados em benefício dos pequenos produtores e da agricultura orgânica é várias vezes menor do que os incentivos voltados ao agronegócio, que incluem financiamentos facilitados e redução na tributação, inclusive dos agrotóxicos.

http://agriculturafamiliarater.blogspot.com.br/
O uso maciço de veneno nas lavouras brasileiras tem sujeitado a população a doenças diversas, muitas vezes não diagnosticadas. Até mesmo os agrotóxicos de uso permitido, mesmo quando aplicados nas doses aceitáveis, podem prejudicar a saúde das pessoas que consomem os produtos nos quais eles foram utilizados. A situação se torna mais grave porque no Brasil infelizmente ainda é frequente o uso de substâncias proibidas e a utilização das permitidas em quantidades superiores às autorizadas. Os problemas que o envenenamento dos alimentos causa às pessoas variam desde simples irritação até tumores malignos. Na maioria das vezes não se faz a associação do problema com o consumo de alimentos contaminados, pois faltam estudos nesse sentido. De que adianta fazermos campanhas para que as pessoas cuidem melhor de sua saúde, comendo mais vegetais, se eles estão envenenados?

O preço dos produtos orgânicos ainda é muito mais caro do que os “convencionais”, assim chamados aqueles cuja produção utiliza agrotóxicos. As pessoas mais pobres não têm a opção de comprar um produto mais saudável e justamente elas têm maior dificuldade de obter atendimento médico, pois dependem do nosso precário sistema de saúde pública. Configura-se assim uma grande injustiça social, pois os que menos podem se tratar são os que mais se contaminam.

Horta pública em Todmorden, Reino Unido.
Pequenas ações podem ajudar na solução parcial do problema. Uma reportagem recente exibida na Rede Globo mostrou o caso da cidade de Todmorden, no interior da Inglaterra, onde espaços públicos foram transformados em hortas socializadas, onde qualquer um pode plantar e qualquer outro pode colher. Com a iniciativa as pessoas passaram a ter acesso a vegetais saudáveis para sua alimentação. Isso pode ser uma solução adequada para cidades pequenas, mas não resolve o problema da maioria da população que se concentra nos grandes centros urbanos que não tem como produzir alimentos localmente. A verdadeira solução passa por uma ruptura do nosso modelo de agricultura e pela implantação de sistemas de produção mais harmônicos com a natureza. Essa harmonia pode estar na agricultura familiar, onde o homem trabalha a terra compreendendo o valor da natureza e dedicando o respeito que ela merece.

Um bom começo para o Brasil seria estabelecer uma meta de redução no consumo de agrotóxicos e implantar políticas para alcançar essas metas. Deveríamos ser campeões de produção alimentos saudáveis ao invés de liderarmos a lista dos contaminadores do planeta.


Veja também: O veneno nosso de cada dia

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